Filho: Vamos montar a rádio já!
Filha: Mas pessoal, não temos apoio político, não temos equipamento, não temos capital, não temos nada!
Filho: Isso já é má vontade, pai! Ela está dificultando as coisas! Temos o kararokê!
Filha: E que caralho o karaokê tem a ver com isso?
Filho: Por acaso você não enfiava o microfone na maquininha? Eu te vi mil vezes fazendo passinhos e cantarolando na frente do espelho!
Filha: E daí?
Filho: E daí você me pergunta, sua imbecil? Se ao invés de cantar você falar, fica a musiquinha de fundo e já tem o efeito rádio, estúpida!
Filha: Mas do mesmo jeito não há transmissão, bichona! Se não há antena, não há transmissão! Filho: Não há transmissão mas a rádio existe, exibicionista de merda!
Filha: Não há rádio, porque não há receptor, cretino!
Filho: Ah, não há receptor?
Filha: Não!
Filho: E nós o que é que somos?
Filha: Emissores, tapado! Emissores!
Filho: Todo emissor é ao mesmo tempo receptor, mongólica, salvo se for surdo. E ainda assim, não pode evitar o que está sendo emitido de modo que é receptor. Quer dizer, é ouvinte, queira ou não queira. Quer dizer, a rádio existe você goste ou não.
Pai: Doa a quem doer. É verdade que você tem um microfone?
Filha: Sim.
Pai: Então vá buscar este microfone antes que eu te desça o cacete!
Filha: Sim, papai.
[trecho do texto teatral 'Orégano' escrito pelo argentino Sérgio Lobo. Na noite de ontem, a montagem na qual eu participo, ganhou os prêmios de melhor espetáculo, melhor direção, melhor atriz, melhor ator coadjuvante, melhor atriz coadjuvante, melhor iluminação e melhor figurino no Festival de Santa Bárbara d'Oeste. Parabéns pra nós, por favor!]
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